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HÁ UMA GRANDE ILITERACIA SOBRE SEGURANÇA SOCIAL. AS PESSOAS NÃO PERCEBEM COMO FUNCIONA

CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinapereira@negocios.pt MIGUEL BALTAZAR Fotografia ISABEL VAZ CEO DA LUZ SAÚDE

Envelhecimento, evolução tecnológica e aumento dos gastos orçamentais em defesa são fatores de pressão sobre o sistema de pensões, considera Isabel Vaz. Que acrescenta que o debate sobre o assunto “foi, mais uma vez, muito pouco esclarecedor”.

Recebida na redação do Negócios na manhã seguinte às eleições , Isabel Vaz sugeriu que o país “ponha os pés no chão outra vez, depois da animação da campanha”, concluindo que “foi, mais uma vez, muito pouco esclarecedor” o debate na campanha sobre o futuro da Segurança Social.

O que é que não ficou claro? “Não sei o que é que vocês sentem como cidadãos, mas estar a dizer que não vamos acabar com a Segurança Social e que vamos aumentar os pensionistas é um desiderato, não é uma estratégia”, considerou.

“Eu, pelo menos, não consegui descortinar durante a campanha como é que Portugal vai fazer para passar a gastar 5% do PIB em defesa, ao mesmo tempo que tem um desafio gigante, nomeadamente numa área importantíssima do Estado Social, que é de facto a Segurança Social”, disse. “Os nossos partidos políticos limitam-se todos a dizer que vão aumentar as pensões e que isso é um pilar, mas, como sempre, ninguém explica como”, descreve. Isto, quando “há uma grande iliteracia nesta área, a maior parte das pessoas não percebe como a Segurança Social funciona. A maior parte das pessoas está convencida que tem direito ao que descontaram”.o tema é enquadrado pela gestora à luz de três desafios.

O primeiro é o envelhecimento da população. “Dentro de muito pouco tempo estamos com 25% da população portuguesa com mais do que 65 anos”, disse.

O segundo desafio são os efeitos “de uma evolução tecnológica sem precedentes”. “As empresas vão tender a fazer reformas antecipadas, as pessoas vão achar que estão fora do mercado de trabalho e vão ser um peso outra vez para a sociedade”, ao mesmo tempo que a imigração traz receitas contributivas imediatas à Segurança Social, mas associadas à criação de direitos que mais tarde exigirão despesa.

A terceira, é a já referida pressão para reforçar o investimento em defesa, face às conversações que têm em conta o objetivo de gastar 5% do PIB. “Ou então saímos da NATO. É isso? Também pode ser. ‘Why not’?”, provoca.

Um diagnóstico para uma eventual “transição”

Mostra-se familiarizada com a pressão do dia a dia. “Costumo dizer quando vou ali para o Hospital da Luz que entro no buraco negro, ou seja, sou consumida pelo dia a dia, que no fundo é o meu ‘online’, deixo de conseguir pensar, só estou a resolver problemas para os dez segundos a seguir”. Para acrescentar que o desafio que, “de facto, hoje também temos nas empresas é igual ao vosso: conseguirmos, às vezes, sair do dia a dia para pensar estrategicamente” e “começarmos todos a fazer perguntas um bocadinho mais difíceis aos ministros”.

“A evolução tecnológica sem precedentes vai pressionar o sistema da Segurança Social, pois as empresas vão tender a fazer reformas antecipadas.”

“Obviamente, não se pode ignorar o modelo passado.”

Ao longo de mais de uma hora de conversa, uma das sugestões que deixa à redação é sobre “quais as correntes hoje no mundo de como é que isto se está a fazer, quais é que são as várias hipóteses e tentar perceber-se qual é que é o modelo que no fundo seria o mais adequado ao contexto de Portugal, futuro, e também ao passado”. “Obviamente, não se pode ignorar o modelo passado, porque tem impacto, e mesmo que se pense que tem que se fazer uma transição, tem que se fazer a transição”, disse, esclarecendo, de seguida, que tem em mente a transição para um sistema “misto”.

Questionada sobre a necessidade de um amplo consenso em torno do modelo de pensões, de forma a evitar alterações consoante o ciclo político, a gestora considera-o desejável. Qual é então o ponto em que se cruzam as diferentes sensibilidades?

“Eu não sei qual é a resposta, até porque não sou especialista de Segurança Social”, responde, durante o encontro onde também sugeriu que sejam consultados especialistas com experiência ou perfil académico, mas “agnósticos em relação à política”.

“Agora, o que acho que é fundamental é: onde é que estamos? Qual é que foi o modelo que nos trouxe até aqui?”, diz, descrevendo a história como uma “condicionante”. “E isso é informativo, porque a maior parte das pessoas não sabe e diz coisas sem saber efetivamente qual é que é o modelo em que Portugal está”.

Embora reconheça a particularidade do atual momento político, a CEO da Luz Saúde insiste em respostas, comparando-as às que lhe são exigidas na sua gestão diária. “Não podemos continuar a permitir que o nosso debate político não seja concreto”, insiste. “Ou os deixamos em estado de negação ou então vão ter de governar”, responde, referindo-se tanto ao Executivo como à oposição.

EDIÇÃO ESPECIAL

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2025-05-29T07:00:00.0000000Z

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